sábado, 9 de março de 2013

JOSÉ DE ALENCAR


José Martiniano de Alencar (Fortaleza, no bairro Messejana, 1 de maio de 1829 — Rio de Janeiro, 12 de dezembro de 1877) foi um jornalista, político, advogado, orador, crítico, cronista, polemista, romancista e dramaturgo brasileiro.

Formou-se em Direito, iniciando-se na atividade literária no Correio Mercantil e Diário do Rio de Janeiro. Foi casado com Ana Cochrane. Era filho do senador José Martiniano Pereira de Alencar, irmão do diplomata Leonel Martiniano de Alencar, barão de Alencar, e pai de Augusto Cochrane de Alencar.

Vida e obra

Nasceu em Messejana, na época um município vizinho a Fortaleza. A família transferiu-se para a capital do Império do Brasil, Rio de Janeiro, e José de Alencar, então com onze anos, foi matriculado no Colégio de Instrução Elementar. Em 1844, matriculou-se nos cursos preparatórios à Faculdade de Direito de São Paulo, começando o curso de Direito em 1846. Fundou, na época, a revista Ensaios Literários, onde publicou o artigo questões de estilo. Formou-se em direito, em 1850, e, em 1854, estreou como folhetinista no Correio Mercantil. Em 1856 publica o primeiro romance, Cinco Minutos, seguido de A Viuvinha em 1857. Mas é com O Guarani em (1857) que alcançará notoriedade. Estes romances foram publicados todos em jornais e só depois em livros.

José de Alencar foi mais longe nos romances que completam a trilogia indigenista: Iracema (1865) e Ubirajara (1874). O primeiro, epopeia sobre a origem do Ceará, tem como personagem principal a índia Iracema, a "virgem dos lábios de mel" e "cabelos tão escuros como a asa da graúna". O segundo tem por personagem Ubirajara, valente guerreiro indígena que durante a história cresce em direção à maturidade.

Em 1859, tornou-se chefe da Secretaria do Ministério da Justiça, sendo depois consultor do mesmo. Em 1860 ingressou na política, como deputado estadual no Ceará, sempre militando pelo Partido Conservador (Brasil Império). Em 1868, tornou-se ministro da Justiça, ocupando o cargo até janeiro de 1870. Em 1869, candidatou-se ao senado do Império, tendo o Imperador D. Pedro II do Brasil não o escolhido por ser muito jovem ainda.

Em 1872 se tornou pai de Mário de Alencar, o qual, segundo uma história nunca totalmente confirmada, seria na verdade filho de Machado de Assis, dando respaldo para o romance Dom Casmurro. Viajou para a Europa em 1877, para tentar um tratamento médico, porém não teve sucesso. Faleceu no Rio de Janeiro no mesmo ano, vitimado pela tuberlucose. Machado de Assis, que esteve no velório de Alencar, impressionou-se com a pobreza em que a família Alencar vivia.

Produziu também romances urbanos (Senhora, 1875; Encarnação, escrito em 1877, ano de sua morte e divulgado em 1893), regionalistas (O Gaúcho, 1870; O Sertanejo, 1875) e históricos (Guerra dos Mascates, 1873), além de peças para o teatro. Uma característica marcante de sua obra é o nacionalismo, tanto nos temas quanto nas inovações no uso da língua portuguesa. Em um momento de consolidação da Independência, Alencar representou um dos mais sinceros esforços patrióticos em povoar o Brasil com conhecimento e cultura próprios, em construir novos caminhos para a literatura no país. Em sua homenagem foi erguida uma estátua no Rio de Janeiro e um teatro em Fortaleza chamado "Teatro José de Alencar".

A Praça José de Alencar (Ceará) é uma homenagem da sua cidade natal.

Características da obra de Alencar

A obra de José de Alencar pode ser dividida em dois grupos distintos

Quanto ao Espaço Geográfico
  • O sertão do Nordeste - O Sertanejo
  • O litoral cearense - Iracema
  • Fogo na babilonia
  • O pampa gaúcho - O Gaúcho
  • A zona rural - Til (interior paulista), O Tronco do Ipê (zona da mata fluminense)
  • A cidade, a sociedade burguesa do Segundo Reinado - Diva, Lucíola, Senhora e os demais romances urbanos.
Quanto a Evoluçao Historica
  • O período pré-cabralino - Ubirajara.
  • A fase de formação da nacionalidade - Iracema e O Guarani.
  • A ocupação do território, a colonização e o sentimento nativista - As Minas de Prata (o bandeirantismo) e Guerra dos Mascates (rebelião colonial).
  • O presente, a vida urbana de seu tempo, a burguesia fluminense do século XIX - os romances urbanos Diva, Lucíola, Senhora e outros.

Resumo Biográfico (Cronologia)

  • 1829
  • José Martiniano de Alencar nasce em Messejana, hoje bairro da cidade de Fortaleza, Ceará, a 1º de maio.
  • 1830
  • Transfere-se com a família para o Rio de Janeiro.
  • 1840
  • Está matriculado no Colégio de Instrução Elementar.
  • 1846
  • Ingressa na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo.
  • 1848
  • Transfere-se para a Faculdade de Direito de Olinda.
  • 1850
  • Em São Paulo novamente, forma-se em Direito.
  • 1854
  • Inicia, no Rio de Janeiro, sua colaboração no Correio Mercantil.
  • 1856
  • Trabalha como redator-chefe no Diário do Rio de Janeiro. Publica as Cartas sobre a confederação dos Tamoios, polêmica com Gonçalves de Magalhães. Estreia na ficção com o romance Cinco minutos.
  • 1857
  • Publica com grande repercussão O Guarani, primeiro em folhetins, depois em livro.
  • 1860
  • Falece o pai do escritor - José Martiniano de Alencar -, que fora revolucionário e político influente.
  • 1861
  • Elege-se deputado. Reeleito em várias legislaturas subsequentes.
  • 1865
  • Nasce o seu filho Augusto de Alencar
  • 1868
  • Ministro da Justiça durante dois anos no Gabinete Conservador.
  • 1870
  • Abandona a carreira política, magoado com o imperador dom Pedro II.
  • 1877
  • Vítima de tuberculose, viaja para a Europa, tentando curar-se. Falece no Rio de Janeiro a 12 de dezembro.

Romances

  • Cinco Minutos, 1856
  • MeuKior, 1856
  • A viuvinha, 1857
  • O guarani, 1857
  • Lucíola, 1862
  • Diva, 1864
  • Iracema, 1865
  • As minas de prata - 1º vol., 1865
  • As minas de prata - 2.º vol., 1866
  • O gaúcho, 1870
  • A pata da gazela, 1870
  • O tronco do ipê, 1871
  • Guerra dos mascates - 1º vol., 1871
  • Til, 1871
  • Sonhos d'ouro, 1872
  • Alfarrábios, 1873
  • Guerra dos mascates - 2º vol., 1873
  • Ubirajara, 1874 
  • O sertanejo, 1875
  • Senhora, 1875
  • Encarnação, 1877

Teatro

  • O crédito, 1857
  • Verso e reverso, 1857
  • O Demônio Familiar, 1857
  • As asas de um anjo, 1858
  • Mãe, 1860
  • A expiação, 1867
  • O jesuíta, 1875

Crônica

  • Ao correr da pena, 1874

Autobiografia

  • Como e por que sou romancista, 1873

Crítica e polêmica

  • Cartas sobre a confederação dos tamoios, 1856
  • Ao imperador:cartas políticas de Erasmo e Novas cartas políticas de Erasmo, 1865
  • Ao povo:cartas políticas de Erasmo, 1866
  • O sistema representativo, 1866

Os Pampas

José de Alencar

“Ao por do sol perde o pampa os toques ardentes da luz meridional. As grandes sombras que não interceptam montes nem selvas, desdobram-se lentamente pelo campo fora.  É então que se assenta perfeitamente na imensa planície o nome castelhano.  A savana figura realmente um vasto lençol desfraldado por sobre a terra, velando a virgem natureza americana.

Essa fisionomia crepuscular do deserto é suave nos primeiros momentos; mas logo ressumbra tão funda tristeza que estringe a alma.  Parece que o vasto e imenso orbe cerra-se e vai minguando a ponto de espremer o coração.

Cada região da terra tem uma alma sua, raio criador que lhe imprime o cunho de originalidade. A natureza infiltra em todos os seres que ela gera e nutre aquela seiva própria; e forma uma família na grande sociedade universal.

Quantos seres habitam as estepes americanas, seja homem, animal ou planta, inspira nelas uma alma pampa.  Tem grandes virtudes essa alma. A coragem, a sobriedade, a rapidez são indígenas da savana.

No seio dessa profunda solidão, onde não há guarida para defesa, nem sombra para abrigo, é preciso afrontar o deserto com intrepidez, e sofrer as privações com paciência e suprimir as distâncias pela velocidade.

Até a árvore solitária que se ergue no meio dos pampas é tipo dessas virtudes.  Seu aspecto tem o  quer seja de arrojado e destemido; naquele tronco derreado, naqueles galhos convulsos, na folhagem desgrenhada, há uma atitude atlética. Logo se conhece que a árvore já lutou com o pampeiro e o venceu.  Uma terra seca e poucos orvalhos bastam à sua nutrição.  A árvore é sóbria e feita às inclemências do sol abrasador.  Veio de longe a semente; trouxe-a o tufão nas asas e atirou-a ali, onde medrou. É uma planta imigrante.

Como a árvore são a ema, o touro, o corcel, todos os filhos bravios da savana. Nenhum ente, porém, inspira mais energicamente a alma pampa do que o homem, o gaúcho. De cada ser que povoa o deserto toma ele o melhor; tem a velocidade de ema ou da corça, os brios do corcel e a veemência do touro.  O coração fê-lo a natureza franco e descortinado como a vasta cochilha; a paixão que o agita lembra os ímpetos do furacão, o mesmo bramido, a mesma pujança.  A esse turbilhão de sentimentos era indispensável uma amplitude de coração imensa como a savana.”



Documentário sobre José de Alencar


Bloco 1



Bloco 2


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